UM DIA ASSIM
I.
Conduz seu rebanho ao penhasco imprevisto
Cioso do sol que é distante e sem pastos
E nem tem rebanho ou sequer pensamento –
Razão para o sol é só ser sem sentido
Que em si justifique brilhar de contínuo.
Confessa o desprezo a saber mesmo disso
Pois essa é a razão que escraviza sem trégua –
Ser só o que percebam sentidos já basta.
Ter só o que nas coisas disser sensação.
Dispensa das gentes seus Cristos e crenças
Que crer é perder dos destinos o rumo
Calando a verdade que o sol lhes permite.
Silêncio aqui é morte, o maior desperdício,
Intensa a prosódia das coisas sentidas.
Ser só nas veredas erguidas da luz
Embora a suspeita da sombra que espreita
Além do que ergueu por certeza a retina,
Ruído indistinto e balido abolido.
II.
“Um dia a par de tal contentamento
Que é ser por ser, tão só, durar a brisa
Avessa a subterfúgios e premissas,
Um dia de reencontro em que me invento
O mesmo já por me querer tão outro,
O mesmo à margem dum futuro extinto.
Um dia todo esperas e procura
Ao fim do qual, feliz como bem poucos,
Feliz por me encontrar no quanto quis,
Meus dedos sábios a seu modo, surdos,
Revogam nos espantos dessa tarde
As rotas dum sentido inverossímil.
Um dia recolhido entre os que escoam
No fluxo dos destinos abortados.
Expira o prazo de palácios fátuos
Expresso na alegria de imbecis.
Um dia a prescindir de espelhos loucos
E glórias fáceis nesse afã das horas.”
III.
Orgulhar-se de domínio que o restringe
Aos afetos de sentenças do palpável!
Que haverá de mais coerente que assim ser?
Dura o dia a mesma luz que o quer assim
Sobre os homens que só o pensam por capricho.
Orgulhar-se como quem de si fizesse
O rascunho no qual se acha mais completo.
Mensageiros-mestres fiéis feito seus olhos?
Nem por sonho, que sonhar priva de sê-lo
Plenitude de seus meios sem atalhos,
Sem muletas, amuletos vãos, sem mapas
Nas encostas que lhe ocupam ser pastor
Do rebanho que lhe apraz, que nada pensa
Nada sendo exceto forma, sopro, vida –
Mas que vida, sopro, forma seja ignora
Para sempre, é só dos sábios tal questão.
Ignorar, ignorar sempre o que se oculta
À instrução e ao alcance de seu toque.
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I.
Conduz seu rebanho ao penhasco imprevisto
Cioso do sol que é distante e sem pastos
E nem tem rebanho ou sequer pensamento –
Razão para o sol é só ser sem sentido
Que em si justifique brilhar de contínuo.
Confessa o desprezo a saber mesmo disso
Pois essa é a razão que escraviza sem trégua –
Ser só o que percebam sentidos já basta.
Ter só o que nas coisas disser sensação.
Dispensa das gentes seus Cristos e crenças
Que crer é perder dos destinos o rumo
Calando a verdade que o sol lhes permite.
Silêncio aqui é morte, o maior desperdício,
Intensa a prosódia das coisas sentidas.
Ser só nas veredas erguidas da luz
Embora a suspeita da sombra que espreita
Além do que ergueu por certeza a retina,
Ruído indistinto e balido abolido.
II.
“Um dia a par de tal contentamento
Que é ser por ser, tão só, durar a brisa
Avessa a subterfúgios e premissas,
Um dia de reencontro em que me invento
O mesmo já por me querer tão outro,
O mesmo à margem dum futuro extinto.
Um dia todo esperas e procura
Ao fim do qual, feliz como bem poucos,
Feliz por me encontrar no quanto quis,
Meus dedos sábios a seu modo, surdos,
Revogam nos espantos dessa tarde
As rotas dum sentido inverossímil.
Um dia recolhido entre os que escoam
No fluxo dos destinos abortados.
Expira o prazo de palácios fátuos
Expresso na alegria de imbecis.
Um dia a prescindir de espelhos loucos
E glórias fáceis nesse afã das horas.”
III.
Orgulhar-se de domínio que o restringe
Aos afetos de sentenças do palpável!
Que haverá de mais coerente que assim ser?
Dura o dia a mesma luz que o quer assim
Sobre os homens que só o pensam por capricho.
Orgulhar-se como quem de si fizesse
O rascunho no qual se acha mais completo.
Mensageiros-mestres fiéis feito seus olhos?
Nem por sonho, que sonhar priva de sê-lo
Plenitude de seus meios sem atalhos,
Sem muletas, amuletos vãos, sem mapas
Nas encostas que lhe ocupam ser pastor
Do rebanho que lhe apraz, que nada pensa
Nada sendo exceto forma, sopro, vida –
Mas que vida, sopro, forma seja ignora
Para sempre, é só dos sábios tal questão.
Ignorar, ignorar sempre o que se oculta
À instrução e ao alcance de seu toque.
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