Um cachorro chamado Chuí

Eu sou pobre não sou rico

Pois o que é riqueza pra tu

Eu num quero e nem tenho,

Eu não sou dono do mundo

Não sou senhor de engenho

Pois só trabalho para os outros

Um pedaço de terra não tenho.

Vou lhe contar com dignidade

A única coisa que eu possuí

Foi um pequenino cachorro

Que chamei de meu amigo Chuí

Aquele sim era virado na gota

O único cachorro que um dia possuí.

Nunca mais o mundo vai ver

Outro cachorro naquela qualidade

O bichinho até que era bom

Mas ele tinha um tantinho de maldade.

Uma vez ele deu fé

Do galinheiro da vizinha

E o danado pensou assim

Ô mulher vou comer tuas galinhas.

Outra vez ele estava

Ali assim todo matreiro

Quando prestei atenção

Ele tinha mexido

Nas brasas do fogareiro.

Nunca vi um bichinho tão atentado

Para aquele ali não tinha parelha

Caçava siriema, galinha, bode, veado

E ainda estava de olho nas pombinhas da telha.

Mas era meu amigo e bicho esperto

Quando eu ia caçar no mato

Ali na serra, ali por perto

Não saía do meu pé e nunca ficava quieto.

Agora também, era dócil

Um bicho bem mansinho

Não fazia mal a ninguém

Parecia até um passarinho.

Só lembro de ele ter ficado enraivado um vez

Foi por causa da visita de um menininho

O menino correu atrás dele o dia todo

Pulando e puxando dele o rabinho.

Chuí como era esperto

Bicho com inteligência tamanha

Ganhou daquele menininho

Com toda certeza na manha.

Saiu bufando o terreiro inteiro

Na cara do pobre menino

Que o coitado num quis mais saber

De meu cachorro pequenininho.

Chuí viveu muitos anos

Sempre andando comigo

Andava sempre na frente

Me livrando do perigo

Matava até Cascavel

Cobra saía correndo

Que só se ouvia o zumbido.

Ele quando perto de morrer

Já sentindo aquela agonia

Olhou no fundo dos meus olhos

Ele naquela hora queria minha companhia.

Então eu lembrei de tudo o que passamos

De tantas vezes que caçamos e brincamos

E então agradeci e falei para ele naquela hora ali comigo:

-Vá em paz meu velho companheiro, meu querido Chuí amigo.