Dia e noite

Levanto

Não disse acordo

[E se pareço explícita

É para encurtar o excesso

Das minhas implicitudes]

Abro as almas da casa

Também minhas janelas

E o dia começa a penetrar

Primeiro a cozinha

Que fumaça de café é travessia de olhos

E o cheiro estrada corpos

Depois a sala

Onde os livros me tomam as mãos

Ignoram o pêndulo das horas

E me levam ao portão

Talvez porão

Caso de ser uma rima inconsciente

Só depois um fio de sol ganha o quarto

Define a cor do dia

E me veste pro mundo

Quando a cidade se mete nas minhas esquinas

O sinal não para meus olhos

O cruzamento das avenidas é um raio giz do meu peito

E o muro pichado ao lado

É a tatuagem que eu pichei

No verso da pele

Não fosse o bastante

Os passeios repletos de pessoas

Me levam a passear em mim

Nos espaços mais imprevistos

Na boca dos cantos

Meio-fios invisíveis

Becos noturnos

Lugares anônimos

Doentes de espelhos

Quando vejo já é noite

O dia de dentro sai

A noite é fora

Deito

Não disse durmo.