Fotografia
Na Praça da Liberdade,
olhar através das fontes
e alcançar os ipês rosados
ante as curvas eróticas de Niemeyer
não era ainda ver a fundo.
O fundo era mais fundo.
O fundo viria a ser.
Uma fenda.
Um corte no olho.
Um furo na visão do universo.
O fundo era o verso,
anverso da explicitude.
Que o poeta fotografa o fio
no qual se borda flor a flor no ar.
Qual colar de missangas:
cobrem um colo de desejo,
sustentadas no invisível.
O poeta quer tocar a pele do céu.
Se a encobre,
é pelo gozo de desnudá-la.
O poeta transvê o azul.
Ao vesti-lo de rosa,
o poeta dá voz ao silêncio
que se ouve das janelas.