Porta-nada
Ontem ganhei uma caixinha de pérola
Manualmente adornada
De caso pensado a porta-joias.
A moça me tem gratidão
E disse ver requinte no meu ser.
A moça não sabe do meu apreço pelo inútil
E de como o presente vindo do nada
Vazio das datas comemorativas
Que os obrigam
Se batizava em mim manoelmente
como porta-nada.
Não sonharia a menos poeta
Que a pérola estava dentro:
A nadidade,
Qual promessa de domingo.
Manterei a caixa sobre o criado
Dito mudo na tradição
Testemunha dos meus devaneios
Meu guardador de inutilidades
Os livros de poesia
Que saltam aos olhos da estante
E se revezam entre varal de escuros
E abridores de amanhecer.
A moça não sabe que ampliou meu ser
E que abrirei a caixa todos os dias
Em busca da pérola interior.