PRAÇEANDO

PRAÇEANDO

Alarido de crianças na praça

Ameniza as manchetes

Penduradas na banca de jornais

As árvores frutíferas e ornamentais

Com suas folhas, flores e frutos

Alegram a visão

E trazem água a boca

Caminhantes não olímpicos

Suam antes de ganhar a vida

Não há medalhas, só pretensão

Pedintes acordam para pedir

Cachorros sem pedigree

Fielmente os acompanham

Cães bem nascidos

Passeiam bem vestidos

Em coleiras colares

Como se fugir fossem

Para virar latas

Velhos aquecem-se ao sol

Que teima em permanecer frio

Ambulantes, água de coco

Garapa, minduim, jujuba

Esmola não dada

Evangélicos pregam e oferecem fé

Para depois cobrar

A bela igreja fechada

O padre dorme o sono dos injustos

Flanelinhas brigam por espaço

Para guardar liteiras modernosas

A sujeira é ímpar, é par

Ninguém para limpar

Só para sujar

E a sujeira rola

Na manchete do jornal

Na academia da terceira idade

Ninguém tem piedade

Que morram todos

Que matem todos

Que explodam a tudo e a todos

Enquanto o futuro passa de mochila

Para ir a escola

Aprender quem sabe

Conhecer quem sabe

Aplicar quem sabe

Que não morram todos

Ou quase todos

Ignorantes em alto grau

Herdeiros de primeiro grau

E lá vem a polícia comunitária

Olha e nada vê

Finge-se cega

Enquanto o pipoqueiro carrega

A droga da vida

E leva a vida na droga

E as manchetes dos jornais

Em vermelho intenso

E o censo

E o senso?

De 200 milhões

De almas penadas

Pelos apenados

Que agora buzinam

Engravatados

Vestidos de Vossa Excelência

Trafegando, traficando benesses

Num trânsito desordenado

E pela janela

Latas, impropérios

Celulares na mão

Na contramão

Giram na praça

Destilando carbono

Para atletas sem medalha

Que os mantém

E a manchete dos jornais

Aquecem o globo

Há falta de ar, de água

Há fartura de faltas

Ninguém marca gols

Só toma bola nas costas

E carrega a culpa

Que não espia na igreja

Fechada aos fiéis

Perdoa-os Francisco

Eles sabem o que fazem

Não pagam dízimo

Já estão de joelhos

Sem empregos, sem paga

E a manchete dos jornais

Anuncia, prenuncia o caos

Amanhã

Hoje

Tem marmelada, tem goiabada

Tem sim, senhor

Tem palhaço

Tem tornozeleira

Tem olimpiada

Tem olympus

Tem pus, tem ferida

Tem prurido na praça

Não tem remédio

Apenas violência e tédio

E as manchetes dos jornais

Notícias do ontem

Notícias do hoje

Que também serão

Do amanhã

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 07/07/2016
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