Janaína

Um passarinho cantou na janela

o som invadiu

cantou, cantou e cantou

um gato na varanda surgiu

olhou, olhou e olhou

pensou em pular

pensou em se alimentar

o passarinho impassível

continuou a cantar baixinho

cantou, cantou e cantou

de repente, abriu as asas para voar

mas ficou, se acomodou

continuou a cantar

o gato miou lentamente

miou, miou e miou

e acompanhou o canto da ave na janela

que continuou a cantar

cantou, cantou e cantou

eles se olharam

gato e passarinho

um cantava

um miava

um cantava

um miava

ninguém cansava

ninguém parava

e os sons continuavam

um cantava

o outro miava

estavam enfeitiçados

vinculados pelo som

abandonaram as divergencias

abandonaram-se

encontraram o fio tenue

dos acordos tácitos

quando a hostilidade

se dilui

em prazeres

o prazer sobrepuja os orgulhos

o gato era corrupto

Janaina com seu canto convenceu

e ele hipnotizado cedeu.

AgisJunior
Enviado por AgisJunior em 03/07/2016
Código do texto: T5686528
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