Janaína
Um passarinho cantou na janela
o som invadiu
cantou, cantou e cantou
um gato na varanda surgiu
olhou, olhou e olhou
pensou em pular
pensou em se alimentar
o passarinho impassível
continuou a cantar baixinho
cantou, cantou e cantou
de repente, abriu as asas para voar
mas ficou, se acomodou
continuou a cantar
o gato miou lentamente
miou, miou e miou
e acompanhou o canto da ave na janela
que continuou a cantar
cantou, cantou e cantou
eles se olharam
gato e passarinho
um cantava
um miava
um cantava
um miava
ninguém cansava
ninguém parava
e os sons continuavam
um cantava
o outro miava
estavam enfeitiçados
vinculados pelo som
abandonaram as divergencias
abandonaram-se
encontraram o fio tenue
dos acordos tácitos
quando a hostilidade
se dilui
em prazeres
o prazer sobrepuja os orgulhos
o gato era corrupto
Janaina com seu canto convenceu
e ele hipnotizado cedeu.