DOR CALADA
Essas dores, as que eu canto,
muitas vezes não são minhas.
São de alguém que nem conheço,
mas tão logo eu apareço
corre a contar-me a história
de sua vida, doída,
dos seus choros mais sentidos
que andam junto consigo,
agasalhados em silêncio.
É uma forma de lamento.
Talvez seja um desabafo
pra aliviar o cansaço
desse peso desmedido
que fere, machuca - inimigo,
a rondar-nos sempre atento.
Eu escuto, eu conforto,
entendo bem o que sente.
Também eu, eu sofro e choro,
disfarço porém, me controlo:
não mostro o que sinto a ninguém.