Poemas de bolso
Ao inventar a verdade
a mídia estupra e mata
sem maldade.
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O poema acabou a festa
radical como um tiro
na testa
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Desejo/beijo
morrendo à míngua.
Só entendo
se você falar
na minha língua.
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Alma rebelada atoa
o poeta tem seu próprio tempo
e voa
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Súbita sucumbência
morrer é uma arte
e insólita ciência
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Solidão sem janela
assim mesmo o medo
espia por ela
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A Grande Máquina mói
e aniquila sonhos
mas não dói.
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Indefinível grandeza
a mão que separa o átomo
é a mesma que põe a mesa.
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Pobre liberdade
espremida entre a fome
e a necessidade.
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Droga sem bula
a poesia espera
quem lhe engula.
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O homem que não sou
e que não fui
contempla a vida e rui
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O relógio partiu
o dia ao meio
e deglutiu.
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Impotente poeta
a rima se oferece
ele a deixa quieta
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Sádico fato
o rato faz da rata
gato e sapato
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Como um cão danado
uivo para uma lua morta
desesperado
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História datada
chorou ao nascer
por nada... por nada...
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Driblou a fé
chamou de “joão”
Deus e Maomé
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Em dialeto
passionês
serei discreto
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Passional
qual Pierrot
no carnaval
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A nostalgia
do gato-tempo
me acaricia
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Disfarço o verso
com intenções
que não confesso
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A vida corre
de rio abaixo
que mata e morre
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Arte é aquilo que escapa
da vã inércia
na quente chapa
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Na jugular
a mãe leoa
cuida do do lar
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Tantas... tantas fiz
que fiquei preso
no círculo de giz
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Resolveu radicalizar:
fiado, só depois de amanhã
e olhe lá!
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Nau dos insensatos
afoga os deuses nas alturas
e salva os ratos
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Pintura em pleno ar
borrei de azul-desejo
o gás vital dela respirar
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Um navio desatraca
na amurada, a morte
amola a faca
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Anjo da guarda batendo
eu não estou nem aí
vou cuidar dos meus pecados.
Era um anjo encouraçado
mais pesado que o ar
não decolou, o coitado!
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Como um ato falho
cortei a vida
feito baralho
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Não quero mais brincar de puta
disse a menina-objeto
ao cafetão, e foi à luta
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Preciso começar de novo
preparar a eclosão
dentro do ovo
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Nênia para minha vó
negra-índia-suburbana
caiapó
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Taquicardia
morro-vivo-morro-vivo
todo dia
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Cruel dilema:
socorro a clara
deixo que gema
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Com medo de dar bandeira
o mastro de sábado
levantou na sexta-feira
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Bio-anorexia
Sem apetite
De comer a vida
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No vaso sanitário
um rei sem trono
defeca antimatérias