Eranças e herrãças
Eram eras ou
heras aquele verde
de esperança?
O que era para ser uma fotografia da natureza
Não conteve o verde frondoso
De minha mãe agarrada a nós
Que, sem qualquer contradição,
[Nenhum amor é lógica
Ainda menos o de mãe]
Cobria os muros
Para que não fossem nossos
Nunca nossos muros
Deslocando a posição dos portões
Que haveríamos de ser livres
Na erança de seus olhos verdes.
Minha mãe via a duração da esperança
E me fazia a sugestão:
Sede assim
Onda que se esforça por exercício desinteressado
Qual pássaro que procura o fim do mundo
O que me deu essa sede
De desver a linha do horizonte
E esse desejo de herrãças
Ondas que quebram ondes
Ventos que dobram árvores
Rios que engolem mares
Todos tortos
Todos curvos
Todos úmidos
Eranças de um tempo nunca ido
Metade plantado
Metade intuído
Uma história repleta de rastros
no espaço de invenção da realidade.