MANDA-ME
Manda-me
O cansaço das tua pálpebras
Que se acentua
No interstício
Entre o sono e a vigília
Deixa-me
Naufragar em tua rua
Mesmo que ela
Não suporte meus passos
Mas me avisando
Que uma estrela
Alumia o meu caminho
Manda-me
Tua memória
E o que foi sonhado
Às cinco horas da manhã
Quando portas e janelas
Foram escancaradas
Deixa-me o livre-arbítrio
De reinventar doidices
Coisas estranhas e belas
No espaço mínimo
De uma fresta
Manda-me
O castanho dos teus olhos
Que eu continuo aqui
Nessa quase irrealidade
Com a esperança de um dia
Apalpar tua pele e delirar
Sob o vazio e o silêncio das palavras.