DESPEDIDA

O sol já se foi.

E eu também quero ir me embora.

Outros tempos, eu ficava.

Não estes de agora.

Aridez, secura, espinhos.

Estendo a mão, acaricio o vento,

e por um breve instante

meus olhos se espicham no tempo.

Ao longe, me convida o horizonte, no lusco-fusco do sol.

Gravo na retina da memória

a fugacidade eterna daquele breve momento.

A sabedoria reside em repartir em pratos iguais

a tristeza e a alegria das lembranças.

E ter sempre em meio à prataria

algumas taças reluzentes, refulgidas de esperança nos cristais.

É saber a hora exata de partir sem sequer olhar para trás.

Vida nova se reinventa em qualquer parte,

pois os lugares são parecidos, mas nenhum deles é igual.

É preciso olhos de poeta para além do bem e do mal.

E se livrar de todo o fardo. Desapego.

E não temer, jamais, a solidão.

Se não tiveres essa sabedoria,

ficarás para sempre cravado no mesmo chão.

Feito estátua de sal.

A estrada à frente convida.

E, nos ermos distantes,

uma flor pressentida exala seu perfume.

Promete solo fértil para o renascer da vida.

Uma estrela brilha tênue na noite quase escura.

Pia uma coruja.

Aperto o passo e sigo a trilha, talvez Aldebarã.

Adivinho no sopro da brisa um gosto de aurora.

Promessas de novo amanhã.

(José de Castro, 10 fev 2012... na verdade, poesia não tem idade...)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 25/06/2016
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