DESPEDIDA
O sol já se foi.
E eu também quero ir me embora.
Outros tempos, eu ficava.
Não estes de agora.
Aridez, secura, espinhos.
Estendo a mão, acaricio o vento,
e por um breve instante
meus olhos se espicham no tempo.
Ao longe, me convida o horizonte, no lusco-fusco do sol.
Gravo na retina da memória
a fugacidade eterna daquele breve momento.
A sabedoria reside em repartir em pratos iguais
a tristeza e a alegria das lembranças.
E ter sempre em meio à prataria
algumas taças reluzentes, refulgidas de esperança nos cristais.
É saber a hora exata de partir sem sequer olhar para trás.
Vida nova se reinventa em qualquer parte,
pois os lugares são parecidos, mas nenhum deles é igual.
É preciso olhos de poeta para além do bem e do mal.
E se livrar de todo o fardo. Desapego.
E não temer, jamais, a solidão.
Se não tiveres essa sabedoria,
ficarás para sempre cravado no mesmo chão.
Feito estátua de sal.
A estrada à frente convida.
E, nos ermos distantes,
uma flor pressentida exala seu perfume.
Promete solo fértil para o renascer da vida.
Uma estrela brilha tênue na noite quase escura.
Pia uma coruja.
Aperto o passo e sigo a trilha, talvez Aldebarã.
Adivinho no sopro da brisa um gosto de aurora.
Promessas de novo amanhã.
(José de Castro, 10 fev 2012... na verdade, poesia não tem idade...)