DICOTOMIA

DICOTOMIA

Vivo aqui

Não vivo lá

Sou daqui

Não sou de lá

Sou Cristo

Não sou Buda

Nem Alá

Falo português

Não inglês

Nem francês

Nem outra língua

Ouço impropérios

Em todas

Ajo vitupérios

Globais em glebas

Risco linhas

Que parecem imaginárias

Divido-me em multiplicidades

Diminuo-me em atrocidades

Somo-me em banalidades

Aproximo-me em distância

O amor se apaga

A chama naufraga

A direita sem esquerda

Sufraga

E as janelas com grades

Que veem muros

Impedem o horizonte

De unir céu e terra

De atravessar pontes

De juntar homens sem guerras

De não precisar de forças de paz

Para juntar gente

Antes do aqui jaz

Do humano que vira humo

Do supremo, sumo

Um caldo de sangue

Esparramado

Num chão disputado

Pela insensibilidade

Pela adversidade

Pela incapacidade

De dar-se as mãos

E assim me faço único

Singular

Sem chance de ser plural

Por tez, por língua

Por cultura, por tradição

Por gênero, por credo

Por pura ignorância

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 24/06/2016
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