a luz irrompe onde nenhum sol brilha

A LUZ IRROMPE ONDE NENHUM SOL BRILHA

A luz irrompe onde nenhum sol brilha;

onde não se agita qualquer mar, as águas do coração

impelem as suas marés;

e, destruídos fantasmas com o fulgor dos vermes nos cabelos,

os objectos da luz

atravessam a carne onde nenhuma carne reveste os ossos.

Nas coxas, uma candeia

aquece as sementes da juventude e queima as da velhice;

onde não vibra qualquer semente,

arredonda-se com o seu esplendor e junto das estrelas

o fruto do homem;

onde a cera já não existe, apenas vemos o pavio de uma candeia.

A manhã irrompe atrás dos olhos;

e da cabeça aos pés desliza tempestuoso o sangue

como se fosse um mar;

sem ter defesa ou protecção, as nascentes do céu

ultrapassam os seus limites

ao pressagiar num sorriso o óleo das lágrimas.

A noite, como uma lua de asfalto,

cerca na sua órbita os limites dos mundos;

o dia brilha nos ossos;

onde não existe o frio, vem a tempestade desoladora abrir

as vestes do inverno;

a teia da primavera desprende-se nas pálpebras.

A luz irrompe em lugares estranhos,

nos espinhos do pensamento onde o seu aroma paira sob a chuva;

quando a lógica morre,

o segredo da terra cresce em cada olhar

e o sangue precipita-se no sol;

sobre os campos mais desolados, detém-se o amanhecer.

Dilas Tomas
Enviado por Andrade de Campos em 23/06/2016
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