SINFONIA FÚNEBRE

Novamente meu travesseiro e eu,

Como o brilho frio da lua envolve a noite,

É madrugada e suavemente as folhas das árvores parecem aplaudir,

É o vento que se espreme entre os galhos sem pedir licença,

A claridade morta que de maneira precária iluminava o quarto, pouco a pouco se ausenta,

Logo a chuva passa a cair como o choro de uma viúva aos pés da sepultura de seu amado falecido,

E o som das gotas d’água ao encontrar suas poças, lembram as notas mais agudas do piano,

Era a cruel madrugada envolvendo os pensamentos e as lembranças,

Como um mosquito se embaraça nas perfeitas teias da morte de uma aranha,

Corpo sobre a cama, pele exposta sendo abraçada pelo ar que congelava a pele e as sensações,

Vento e pingos de chuva que lá fora tocavam uma sinfonia fúnebre,

Pensamentos que encharcavam o travesseiro como ondas de uma ressaca,

Ao pé da cama, ela não perdoava em lançar seu olhar sem expressão, rancorosa solidão,

Mas como plumas das asas dos anjos, o sono domina os olhos cansados, tornando-os pesados,

E como mãe que segura em seus braços o filho que acabara de nascer,

Os sonhos se revelam suaves, dando descanso aquele assustado ser.

Amanheceu, as janelas estão abertas, e as verdes folhas estão secas,

Nos pensamentos se instaurou nova confusão,

Aquela noite existiu ou essa lembrança se trata de um sonho,

Que como veneno, despertou do doce oculto amarga ilusão.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 22/06/2016
Código do texto: T5675726
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