QUANDO A PEDRA CHOROU
Saudade vem amuada, com voz acanhada, passos mancos,
aparece como vulto do além,
tem cheiro pastoso, gosto de vazio,
cor de dor.
Saudade coça, perturba, enerva,
incomoda bem mais que pedra no sapato,
bem mais que teco de carne entalado na garganta,
bem mais que perder todas guerra da vida.
Saudade faz parir choros sem chorar,
vai remoendo o tempo vivido sem pressa, nem cuidado,
é desleixada como ela só,
tem face esfomeada como nunca vi.
Saudade carrasca o lado bonito do peito,
faz o canto virar catarro,
faz o bonito renascer pó,
só pó.
Saudade faz envergar os ossos,
faz a fé mofar, faz o sono arrumar suas malas
e sumir de vez.
Saudade desafina o suor, desmerece sopro de vida,
deixa Deus triste como nunca se sentiu.
Saudade faz picadinho das vontades todas,
faz a memória ranger seus dentes,
enche tudo de um vazio sem arremate.
Saudade esmigalha cada recanto do peito,
faz a pedra chorar, faz o tempo estancar,
sacode a alma como britadeira em fúria,
faz a gente esquecer que temos que respirar de vez em quando.
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Inspirado na saudade dos meus queridos filhos, Júlia e David,
na primeira noite em que foram viajar em 9/12/13.
Que voltem pra casa felizes, saudáveis e com saudade toda da gente,
também.
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