O Quarto
Batem à porta.
Sussurros do lado de fora.
Um pequeno envelope escorrega por baixo da porta,
Começa o dia. O dia é um envelope e
O universo é o quarto.
O homem levanta-se, olha-se ao espelho:
Entristece, mas, no fim, cria ânimo.
Despe-se e vai ao banho.
Termina o banho.
Seca-se, veste-se, morre um pouco.
Liga a TV na esperança de ver
Uma catástrofe.
Nada de anormal, a humanidade...
A humanidade continua a vagar
Em sua esfera azul.
A propaganda o diverte,
Enquanto assiste, não pensa,
Apenas espera a graça dos deuses.
Desliga a televisão.
"Agora", pensa,"sei das coisas,
Tenho o mundo nas mãos".
Olha o envelope perto da porta,
Não quer pegá-lo, ainda.
Vai até a pequena mesa,
Há ali um livro.
Abre-o: poesia.
O livro não se entrega,
O espectador não consegue penetrá-lo.
Pensa novamente na TV:
"Muito mais bonita, atraente".
O tempo passa.
Está acordado faz uma hora.
Precisa trabalhar,
Não há trabalho.
Ainda tem um pouco de dinheiro,
O que é sempre uma coisa boa.
Pode comprar.
Sair da passividade comprando.
"Consumir é um ato criativo",
Diz para si mesmo.
Termina de se arrumar.
Está usando a melhor roupa.
Hora de sair.
Passa pela porta apanhando o envelope e lê:
"Ordem de despejo".
Coloca-o novamente no chão,
E sai para fazer compras.