O Nada é o Palco

Se eu viver para exterioridade

O palco de meu interior

Estará sempre vazio,

Nunca acontecerá o teatro de meu peito

Se eu vestir a roupa de gente que o mundo me der,

Talvez até tenha prazeres no absurdo

Dos roteiros impostos por quem vende o mundo

No teatro das convenções sociais

Porém o prazer por si só torna-se frívolo

E a quantidade é inútil pela ausência de sabor,

É preciso então inventar novas dores

Para consolar o desespero que nos assoma,

É preciso ter um amor perdido,

Um fracasso bem sucedido,

Um filho doente,

Para consistir em um bom álibi para viver

Justificando nossa sociedade de solitários

Se escorando no vazio um do outro

Diante de um universo indiferente.

O que inventamos é sim

A verdade para qual vivemos

Porque é uma realidade interna, autêntica,

Só reconhecida pelo inventor,

É quando nosso vazio torna-se palco

E nossa solidão é povoada por nossa imaginação

E escrevemos a mais bela peça;

Percebo então que todo exterior

Traz o sofrimento que nos consome,

Inventores ou figurantes,

Mas ao menos resta aos inventores

Um bom mergulho dentro de si

Quando quiser tomar fôlego para emergir

No ar denso do mundo,

Pois todo artista é um escafandro nato

Das emoções que trabalha dentro de si,

O problema é que eles não conseguem

Tirar a roupa de mergulho

Para andar na superfície.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 19/06/2016
Reeditado em 29/11/2023
Código do texto: T5671695
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