O Nada é o Palco
Se eu viver para exterioridade
O palco de meu interior
Estará sempre vazio,
Nunca acontecerá o teatro de meu peito
Se eu vestir a roupa de gente que o mundo me der,
Talvez até tenha prazeres no absurdo
Dos roteiros impostos por quem vende o mundo
No teatro das convenções sociais
Porém o prazer por si só torna-se frívolo
E a quantidade é inútil pela ausência de sabor,
É preciso então inventar novas dores
Para consolar o desespero que nos assoma,
É preciso ter um amor perdido,
Um fracasso bem sucedido,
Um filho doente,
Para consistir em um bom álibi para viver
Justificando nossa sociedade de solitários
Se escorando no vazio um do outro
Diante de um universo indiferente.
O que inventamos é sim
A verdade para qual vivemos
Porque é uma realidade interna, autêntica,
Só reconhecida pelo inventor,
É quando nosso vazio torna-se palco
E nossa solidão é povoada por nossa imaginação
E escrevemos a mais bela peça;
Percebo então que todo exterior
Traz o sofrimento que nos consome,
Inventores ou figurantes,
Mas ao menos resta aos inventores
Um bom mergulho dentro de si
Quando quiser tomar fôlego para emergir
No ar denso do mundo,
Pois todo artista é um escafandro nato
Das emoções que trabalha dentro de si,
O problema é que eles não conseguem
Tirar a roupa de mergulho
Para andar na superfície.