PALAVRA FUGIDIA...

Qual, poeta, a palavra

Não te escapará à pena?

Fugirá da tua lavra

E parecerá pequena...?

Buscarás, em vão, na rima

Um refúgio imediato

E a palavra do palato

Cria asas, voa acima...

Fica a espera o poeta

De um próximo segundo

Ao silenciar profundo

O poema não completa...

Ó palavra... Que tormento

Buscam-te com alegria

O poeta e a poesia...

Mas, tu foges como o vento!

Quando o ar, então, te acalma

Numa brisa quase fria

Letra a letra em euforia

Tudo inunda até a alma...

No poeta a calma excede

O papel se liga à mente

E aquela inesperadamente

Viajante se despede...

Não remove o intencionado

O desejo que o viola

No estender da mão à esmola

A migalha... O apaixonado...

Continua assim a espera

Como as flores no planeta

No perfume a borboleta

Perpetuarem a primavera...

E assim num instante raro

Quando pensas ter perdido

Para o céu de azul vestido

A palavra... O teu amparo...

Ela volta em migração

Atravessa oceanos

O mistério dos humanos

Pra encontrar o coração...

Mas, ao peito tu palpitas

Ó palavra fugidia...

Noite a leva ao fim do dia

Junta a estrelas infinitas...

Tão distante dela, embora,

ao olhar vês um fulgor

São os rastros de outra aurora...

E a palavra não demora

Para oferecer-te o amor...

Autor: André Luiz Pinheiro

30/04/2016