Passagem

A distância nos faz pigmeus,

assenta limites,

calça nossas fantasias

conduz a calvários,

encosta nas colinas,

resvala nos montes

planta abismos insondáveis

transforma réu e inocente.

imaculado amor, ser original.

almas enlaçam olhares,

ilhados em pensamentos

inundados de lembranças

sufocadas de dores incontidas

sinais são os teus, os meus

cicatrizes indeléveis

profundas de vidas e sortes.

Ah, esse distanciamento!

instala muralhas,

modifica caminhos,

cerra passagens

cruza mundos,

converge trilhas,

revela sonhos,

carrega histórias

de pranto e contentamento

de tantos ais...

de pores do sol,

verão gélido, tempestade glacial

inverno incandescente...

dilúvio no sertão.

Ah, essa expatriação!

distancia visões

desenlaça mãos

une corações

aponta o arrebol

cerceia a liberdade,

nutre a esperança,

vislumbra o amanhã,

plantado no presente,

em constante peleja:

estorvo e motivação.

cruzam olhares de quimeras

em contemplação,

miram paisagens de cinzas e azuis,

que fluem entre os dedos

que apontam pro norte

e remam pro cais...

Este exílio

torna-nos gaivotas, albatrozes,

que transpõem horizontes

conduzindo anseios,

domando feras

suplantando barreiras,

ousando o inatingível,

escorregando no arco-íris,

perambulando pelas galáxias

tropeçando em estrelas

caindo em si, em mim,

na curva de algum rio,

nos rastros de eras,

nas imagens da memória,

nas saudades de outrora,

nas campinas, casebres, castelos....

nas vielas, paços, estradas...

seguem apartados elos,

estranhamente, ligados.

substâncias petrificadas,

instâncias limítrofes,

anos-luz de saudades

encravadas no peito

tatuadas na alma.

Então, esta distância...

separação...

afastamento... espaço?!

corpo a corpo, balançam

trançam liames, linhas em comboios

passo a passo, laço e traço

ponte em promessa se edifica

germina o encontro em paz gritante

marcha o silêncio ensurdecedor

fugazes passos rondam o infinito

perseguem céus, findam nos montes

deserto vão, tão, são, grão...

lançam sementes do desmedido amor

minam gotas, esvaem-se risos

juntam sons, calam-se num beijo

exalam o bálsamo da mocidade.

espelhos são suas almas

desnudas, face a face

qual o côncavo e convexo

afinam num eu

traduzidos em nó,

um, uno, sós, nós.

Lucimar Oliveira
Enviado por Lucimar Oliveira em 15/06/2016
Código do texto: T5667668
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.