Ser ator é assim...
Solitário ator, sentado na ponta de um palco de chão frio, olha, observa, apenas só, solitário ator.
cria teu personagem sozinho, lê seu texto em silêncio, discorre suas falas em uma madruga fria em seu quarto só, discorre como a pinga de um bêbado num bar sem lar.
Diafragma, fala, respira, diafragma, repete, repete, repete, e se entristece, se contorce, mas consegue, e se vê só de novo.
ouve os aplausos quentes da platéia que o venera, mas em seu lar sua cama está fria, bolso vazio, cabeça cheia de idéias, que profissão ingrata essa.
Mas a única profissão que vive todas as sensações do mundo, ele ri de si mesmo, ri como nunca riu, vive um outro ser, vive todas as outras profissões e personalidades que não são suas, se reconstrói para alegrar almas. Ele pode se rejuvenescer, pode se envelhecer, pode criança se tornar, confeiteiro, padeiro, moça recatada do lar, médico ou enfermeiro, manicure talvez pedreiro, inglês, alemão ou um britânico, talvez seja manco, se torna poeta, cria imbatíveis metas e as bate, se torna dona de cabaré, aprende a andar na ponta do pé, batalha, cai mais luta, vira até uma puta, profissão de filha da puta, não valorizada, pouco amada, reclamam do ingresso, então confesso, por mais triste e louco que posso ser, não me deixo abater, bato no peito e digo com jeito, amo atuar, amo criar, amo representar, amo interpretar, amo reivindicar, amo declamar, amo sem dimensões e sem dor, é difícil mas eu amo ser ator.