TORMENTA


Era já a tarde a penumbra
Que alguma perda insinua
Quando pausamos o rumo
Do vir a ser por futuro.
Ébrios de sonho sem culpa,
Bêbados, visão já turva,
Éramos frágil rascunho
Do que por si já não dura.
 
Tínhamos velas e orgulho,
Brados e slogans bem rudes
Sobre o que não se discute
Com quem tateia no escuro.
O pavilhão – era outubro? –
Dançava ao vento, era rubro,
Quando não tínhamos dúvida,
Quando queríamos tudo.
 
Poucos ouviram, por múrmuros
Sopros de negros augúrios
Dentre ruidosos marulhos
Contra os ouvidos mais brutos.
Muitos zombaram, por rústicos,
Muitos julgando algo espúrios
Sopro e avisos reputam
Tudo por toscos absurdos.
 
Veio em portento de cúmulos
Cinza a diluir céu de Turner
Numa batalha de fúrias
Dos elementos convulsos.
Ondas erguendo a insegura
Nau dos perdidos reduzem
O brio a areia na espuma
Suja em destroços, salsugem.
 
Tudo cedia, eis o mundo
Sobre os perplexos marujos
Não desabando, purgando
Pela aflição o que se purga
Dessas almas mais escuras.
Nunca em cada sonho, nunca
Um tal desastre em vislumbre
Teve lugar, sorte bruta.
 
Era já a noite em seu rumo
Sobre os que choram nas turvas
Rochas hostis, na amargura.
Dor que maior pois sem cura
Desde que um canto fajuto
Conta o ocorrido na astuta
Ária a sereias corruptas
Típica...Dura a lamúria.



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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 11/06/2016
Reeditado em 13/06/2016
Código do texto: T5664229
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