Trem, Tempo e Chita
O trem passa e o samba toca
O vestido rodopeia o olhar do homem embriagado de si mesmo
O movimento sinuoso faz-se cobra
Entre cada movimento um suspiro puxado
do fundo da alma
O olhar continua a espelhar o rodopear da chita
Ora a contempla
Ora se opõe
a boca já semi-aberta vira depósito de moscas
E mesmo sendo palco das indesejadas
o olhar não acompanha o trem
O trem
rasga o universo dos ventos
balanceia as copas das árvores
rodopeia o destino dos seus
Rodopeia o olhar cristalizado na chita
cores?
vislumbra a embriaguez
o suor pinga do rosto negro
deslizando pelo sorriso falso
que esconde as marcas da trança
que tenta amenizar a areia machucada
Trem
Tempo
Suor e chita
O rodopear de si mesmo.