ÀS VEZES É PRECISO ACERTAR COM O TORTO
Às vezes é preciso
Errar o alvo
Dar bola fora
Ser a bola da vez
Cair em si
Sai de cena
Baixar o pano
Assumir os erros
Erradicar o orgulho
Ouvir os outros
Ser frágil, chorar em vão.
Às vezes é preciso
Por a bola no chão
Levar desafora pra casa
Aceitar desatinos
Sem perder a razão
Dançar conforme a música
Misturar as estações
Errar a lição
Trocar o roto pelo rasgado
Às vezes é preciso
Dar mão à palmatória
Rir das desgraças
Enfrentar a si próprio
Apropriar indébito
Desmanchar-se em lágrimas
E ficar quieto
Parar de pensar
Comer o pão que o diabo amassou
Beber todas as águas
Pra não passar sede
Não calar em vão
Tem dia que é preciso
Entrar na briga
Decidir o lado
Entrar em parafuso
Viver no fuso horário
Olhar o próprio umbigo
Exaltar o ego
Tomar porrada da vida
E não aprender nada
Tem dia que é preciso
Dar o braço a torcer
Empinar o nariz
Chutar o balde
E o pau da barraca
Armar um barraco
Não ser polido
Tem vez que é necessário
Ser incerto
E até incorreto
Mentir um pouco
Dar uma de louco
Delegar poder
Usar palavras chulas
Frases prontas
Falar pouco e dizer tudo.
Tem hora que é preciso
Dizer o óbvio
Para ser diferente
Rimar amor e dor
Pra não morrer na praia
Sair do sério
Pisar em falso
Pra saber com quantos paus
Se faz uma canoa
Com quanto versos
Se faz um poema