Carta não domesticada sobre ímpetos
Eu não posso e nem quero ser o que vocês querem que eu seja.
Minhas ambições não são suas ambições;
meus amores não são seus amores.
Dizes que pareço louca,
mas minha sanidade não é o que vocês consideram sanidade.
Eu não tenho desejos de ser grande,
tampouco tenho desejos de ser outrem.
Eu sou uma carne ínfima perante o universo,
pequena perante a vida e ainda assim
não me interessa ser magna para a humanidade.
Minha maior trajetória não busca o amor dos homens, mas o tempo de ser;
meu maior amor é a noite e não a luz do dia;
meu maior medo não é a morte, mas a submissão da vontade.
Encontro prazer no inseto, vejo luz no concreto,
aceito de bom grado ser a estranha do outro lado da calçada,
o silêncio de domingo,
o abrir de olhos todos os dias.
Aceito de bom grado viver na noite,
imperceptível e iluminada de cores e hábitos mundanos.
Eu sou um aparato de fragmentos de tudo que amo e odeio
mas diferente de vós,
eu (me) incendeio.