SAUDADES
agarrei-me a janela
do carro que tanto corria
maria fumaça saudades
dos velhos dias
dias de velhos costumes
e comboios
dias em que livres
as carroças dos bois
passeavam pelas praças
trazendo caixotes de feira
e todos eram amigos
sem correria ou canseira
saudades dos velhos jovens
braçudos sem academia
faziam suas incumbências
sem arritmias
e lá vinha a maria fumaça
trem devagar e sempre
talvez a trinta por hora
sem precisar de alfinetes
e eu agarrada a janela
com cinto de segurança
orava a Deus, nuvem bela
assustada feito criança
saudades dos tempos velhos
saudades dos velhos tempos
onde humanos eram sérios
e quase todos bons por dentro