"Cinza"
E quando a chuva alonga estas linhas tamanhas,
Sempre a imitar as grades desta vasta cadeia,
E o mudo tropel das infames aranhas
Em nosso coração estende a sua teia
-Baudelaire.
Só penso em cores
Nos últimos meses
E em metáforas
E em como faz sentido
ao mesmo tempo que não.
Penso em vermelho
Verde, azul, amarelo
Penso em branco e preto
E em toda a dicotomia,
ou qualquer duelo entre opostos.
Sempre sim ou não
Oito ou oitenta
Extremos sem equilíbrio
Sem um meio, um talvez.
Sempre tudo ou nada.
Sempre tudo ou nada.
Preto no branco
Branco no preto
Mesclando tudo
Fazendo fumaça
Fazendo rimas brancas
Liquefazendo a racionalidade
Lutando
Tédio
Escuridão
Incompreendidos e inadequados
A raiz de toda a insignificância
Raiz tão funda que não se alcança
Já aparecem as pétalas irreversíveis
Tal como as flores do mal
Tal como as linhas de Charles-Pierre.
Esse mundo não vale uma rima,
meu bem.
Não vale, sequer, a tentativa.