"Cinza"

E quando a chuva alonga estas linhas tamanhas,

Sempre a imitar as grades desta vasta cadeia,

E o mudo tropel das infames aranhas

Em nosso coração estende a sua teia

-Baudelaire.

Só penso em cores

Nos últimos meses

E em metáforas

E em como faz sentido

ao mesmo tempo que não.

Penso em vermelho

Verde, azul, amarelo

Penso em branco e preto

E em toda a dicotomia,

ou qualquer duelo entre opostos.

Sempre sim ou não

Oito ou oitenta

Extremos sem equilíbrio

Sem um meio, um talvez.

Sempre tudo ou nada.

Sempre tudo ou nada.

Preto no branco

Branco no preto

Mesclando tudo

Fazendo fumaça

Fazendo rimas brancas

Liquefazendo a racionalidade

Lutando

Tédio

Escuridão

Incompreendidos e inadequados

A raiz de toda a insignificância

Raiz tão funda que não se alcança

Já aparecem as pétalas irreversíveis

Tal como as flores do mal

Tal como as linhas de Charles-Pierre.

Esse mundo não vale uma rima,

meu bem.

Não vale, sequer, a tentativa.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 05/06/2016
Reeditado em 05/06/2016
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