NOITES POLARES
NOITES POLARES
BETO MACHADO
Mal cerrei minhas janelas,
O quintal da minha casa
Havia se acinzentado
Com gotículas de orvalho,
Trazidas por calmas brisas
Das hibernais noites polares.
Com o caminhar da lua
Sobre uma flor molhada, solitária e nua
Deparou-se o meu olhar, recém desperto,
Desencantado com o intenso frio.
Um enregelar congelador dos rios
E dos pingüins vindos lá da Patagônia.
Passada a longa noite,
Já se havia dissipado a turva insônia,
Quando o brilho de um dourado rei apagou de vez
O rosto prateado da rainha sobre a flor.
E qual o anoitecer de um dolorido amor,
Meu olhar adormeceu em pleno dia.
Recostado, sem lençol ou cama
Meu corpo, em sonho, estremecia.
Já que, desperto, a madrugada amava
E de qualquer temperatura desdenhava e ria.
Ainda hoje me recordo desse amanhecer
Em que troquei a noite pelo dia.