NOITES POLARES

NOITES POLARES

BETO MACHADO

Mal cerrei minhas janelas,

O quintal da minha casa

Havia se acinzentado

Com gotículas de orvalho,

Trazidas por calmas brisas

Das hibernais noites polares.

Com o caminhar da lua

Sobre uma flor molhada, solitária e nua

Deparou-se o meu olhar, recém desperto,

Desencantado com o intenso frio.

Um enregelar congelador dos rios

E dos pingüins vindos lá da Patagônia.

Passada a longa noite,

Já se havia dissipado a turva insônia,

Quando o brilho de um dourado rei apagou de vez

O rosto prateado da rainha sobre a flor.

E qual o anoitecer de um dolorido amor,

Meu olhar adormeceu em pleno dia.

Recostado, sem lençol ou cama

Meu corpo, em sonho, estremecia.

Já que, desperto, a madrugada amava

E de qualquer temperatura desdenhava e ria.

Ainda hoje me recordo desse amanhecer

Em que troquei a noite pelo dia.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 05/06/2016
Código do texto: T5657871
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