80's Espaços Urbanos
Quando mal percebi
Já estava apaixonado por suas luzes
Sua pressa não me incomodou
Embora no início me sentia um pouco assustado
Suas luzes acabaram então por me cegar
E passei a andar como todo mundo
Se esbarrando, sem se tocar e sem se ver
Uma dor sem murmúrios, silenciosa
Concretos armados, trânsito louco
Forte com muito gelo e pouco amor
Pessoas correndo atrás de dinheiro
Em todas as partes, lástimas
Eu tomei um ônibus para lugar nenhum
Tentando me esquecer naquela noite
Eu estava em lugar nenhum
Bem dentro da minha mente.
Empunhei guitarras e entoei músicas
Contra sua imponente solidão
Mas anjo da morte apressou sua vinda
Morri naquele dia vestido de preto
Preto como os gases das fábricas
Dos canos dos carros apressados
Das chaminés das vastas usinas
Cobrindo o horizonte como sombras letais
Não quis apressar sua queda
Eu era a sua queda e seu declínio
Era o produto saído de suas fornalhas
Descartável e consumível
Em meio a estas ruínas
Nem tudo pode ser tocado
Nem tudo pode ser amado
Tudo morre muito cedo, antes de acordar...
O sono é sua maneira predileta de matar
Nada acaba por que nunca começa de fato
Nada termina, nem se inicia
Você mesmo nunca existiu, só o vazio...