80's Espaços Urbanos

Quando mal percebi

Já estava apaixonado por suas luzes

Sua pressa não me incomodou

Embora no início me sentia um pouco assustado

Suas luzes acabaram então por me cegar

E passei a andar como todo mundo

Se esbarrando, sem se tocar e sem se ver

Uma dor sem murmúrios, silenciosa

Concretos armados, trânsito louco

Forte com muito gelo e pouco amor

Pessoas correndo atrás de dinheiro

Em todas as partes, lástimas

Eu tomei um ônibus para lugar nenhum

Tentando me esquecer naquela noite

Eu estava em lugar nenhum

Bem dentro da minha mente.

Empunhei guitarras e entoei músicas

Contra sua imponente solidão

Mas anjo da morte apressou sua vinda

Morri naquele dia vestido de preto

Preto como os gases das fábricas

Dos canos dos carros apressados

Das chaminés das vastas usinas

Cobrindo o horizonte como sombras letais

Não quis apressar sua queda

Eu era a sua queda e seu declínio

Era o produto saído de suas fornalhas

Descartável e consumível

Em meio a estas ruínas

Nem tudo pode ser tocado

Nem tudo pode ser amado

Tudo morre muito cedo, antes de acordar...

O sono é sua maneira predileta de matar

Nada acaba por que nunca começa de fato

Nada termina, nem se inicia

Você mesmo nunca existiu, só o vazio...

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 04/06/2016
Reeditado em 04/06/2016
Código do texto: T5657259
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