ODEIO GUARDA-CHUVA!

Tomar chuva dá grande prazer pra mim.

Pode ser garoa, chuvinha, chuvão, temporal.

Adoro pisar em poça de água feito moleque,

isso também dá prazer danado.

Chuva na gente parece que limpa mais

que banho de chuveiro.

Parece que tira uma crosta de fora do nosso corpo,

e também do lado de dentro.

Parece que enxágua pedaços da alma

que nem sabíamos que contínhamos.

Chuva na gente faz o ar entrar e sair melhor,

deixa o sangue menos amarrado, menos contido.

Chuva na gente lubrifica cada osso,

deixando-o pronto pra briga.

Chuva na gente lustra a pele,

deixa os nossos sentidos com novos sentidos.

Mas pra mim tem outra razão de ser

algo nada repulsivo, nada incomodador

nada chato mesmo.

Sempre odiei carregar guarda-chuva.

Prefiro pegar mil dilúvios a ter que portar

essa coisa tão incômoda de guardar.

Mas, no fundo, acho que essa assumida repulsa

ao guarda-chuva é mera desculpa pra justificar

chegar encharcado em casa

e até em reuniões importantes de trabalho.

É como se fosse meu álibi incontestável,

algo que faz as pessoas zoarem menos comigo

e estranharem menos eu chegar pingando,

molhado até por dentro.

Odiar usar guarda-chuva é meu relógio ao contrário,

que faz ressuscitar uma parte de mim

que o tempo fez de tudo pra enterrar de vez.

Mas que jogar água pra todos os lados quando piso na poça

faz reacender com toda força, com todos acordes.

Quando Deus fica bravo

e manda dos céus aquela água até não acaba mais,

e posso ser benzido com aquela molhação toda,

sinto como agrado, como forma de sentir

que Deus ainda gosta de mim.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 04/06/2016
Reeditado em 04/06/2016
Código do texto: T5656626
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