NO FINAL DO DIA DE TODO E QUALQUER DOMINGO
No final do dia de todo e qualquer domingo
vejo sempre a tristeza na morte semanal,
em minha forte chuva de somente um pingo,
o qual me encharca de modo bastante infernal.
No final do dia de todo e qualquer domingo
acordo em uma terrível guerra maldita,
como se fosse o piar do filhote flamingo
ou a zoada medonha desta ave tão bonita.
No final do dia de todo e qualquer domingo
listo todas as coisas idas em que apelei
e cuja difícil correção eu jamais vingo,
posto que desta realidade fora pulei.
No final do dia de todo e qualquer domingo
tenho a triste ressaca moral do fracasso,
algo que muito me tortura e nunca extingo
e que já não me parece um simples acaso.
No final do dia de todo e qualquer domingo
não consigo ter um dormir com sono calmo,
lembrando que logo será um novo domingo,
dia sem o controle da vida em cada palmo.
No final do dia do meu vindouro domingo
vou falar da feiura do futuro ora passado,
onde em tudo se fez presente um novo pingo,
estando aí a resposta deste ser fracassado.
Salvador, 2002.