Minha Doce Tristeza
A tristeza bate violentamente à porta do dia,
Faz-se imperiosa e promete fazer-me companhia.
O solo se abala quando passo,
Pareço um dinossauro de grande dimensão
A procura de um lugar pra viver,
A cada pisada no chão fissuras se abrem
Por onde escapam névoas carregadas de gases de tristeza,
Impregnam a sola do sapato e atinge meus pés,
Penetra minha pele a cada passo,
Fico mais triste a cada passo,
Sinto-me triste a cada passo dado em qualquer direção.
Há, em um tornozelo, uma corrente.
Com uma bola de aço na outra extremidade
E, dentro da bola, um GPS dá a minha localização exata.
Para que a tristeza possa me vigiar,
Possa me acompanhar como num Big Brother sarcástico
Aonde somente eu vou para o 'paredão'
E isso acontece todas as manhãs (vivo apreensivo).
Tenho medo de andar sob a chuva,
Eu estou com a imunidade baixa
E só não é mais baixa que minha autoestima.
Se a chuva chegar,
Os gases que escapam por aquelas fissuras vão se avolumar,
Vão se condensar e bater sobre os meus ombros.
Pesam e molham a minha camisa de força,
Herdei essa camisa de força assim que tomei conhecimento
De que eu existo,
Tão logo me tornei consciente,
Fui colocado nessa camisa de força.
A tristeza está caindo sobre minha cabeça
Como galhos de árvores sob as tormentas,
Pesados galhos de tristeza caem e
Só atingem o solo quando estou debaixo deles
Para entrar em minha pele por feridas
Que não se curam,
Que não se cicatrizam,
Feridas abertas na pele demonstram o quão ferido estou no coração
E minha alma está transformada num estágio de desenvolvimento triste do ser humano mais triste que já habitou esse planeta.
Ando e piso no chão com a certeza de que a tristeza é minha única companhia.
Ela me segue de perto.
Às vezes eu carrego-a no colo,
Carrego-a no coração,
Carrego-a sobre meus ombros.
Minha doce tristeza de olhos castanhos...