IPÊ ROXO

IPÊ ROXO

Pelas duas pistas da avenida

Lá vão carros, ônibus, caminhões

Ao encontro de velozes destinos

Bicicletas desavisadas, desinteressadas

Motos e seus incógnitos pilotos

Nas calçadas

Pedestres e suas hipnotizantes telas

Num vai e vem

Desconexo da realidade

Estático, incólume, grandioso

No jardim central

Reina desapercebido pela horda

O ipê, roxo em sua inflorescência terminal

Ninguém o percebe

Preocupados estão com suas belezas pagas

De cores forjadas em ilusão

Com suas belezas longínquas não dispostas

A mão

Cegos pelas belezas artificiais que lhes tampam

A visão

Daqui a pouco tempo o ipê

Será tronco e galhos desaroxeados

Parecendo triste e calado

Até o próximo outono

Quem sabe aí algum passante dirá

Olhem uma árvore morta

A prefeitura não vê isso

É preciso extirpá-la

Antes que provoque um acidente

Pobres zumbis que só conseguem

Ser felizes nas tristezas

E em suas feias belezas

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 26/05/2016
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