IPÊ ROXO
IPÊ ROXO
Pelas duas pistas da avenida
Lá vão carros, ônibus, caminhões
Ao encontro de velozes destinos
Bicicletas desavisadas, desinteressadas
Motos e seus incógnitos pilotos
Nas calçadas
Pedestres e suas hipnotizantes telas
Num vai e vem
Desconexo da realidade
Estático, incólume, grandioso
No jardim central
Reina desapercebido pela horda
O ipê, roxo em sua inflorescência terminal
Ninguém o percebe
Preocupados estão com suas belezas pagas
De cores forjadas em ilusão
Com suas belezas longínquas não dispostas
A mão
Cegos pelas belezas artificiais que lhes tampam
A visão
Daqui a pouco tempo o ipê
Será tronco e galhos desaroxeados
Parecendo triste e calado
Até o próximo outono
Quem sabe aí algum passante dirá
Olhem uma árvore morta
A prefeitura não vê isso
É preciso extirpá-la
Antes que provoque um acidente
Pobres zumbis que só conseguem
Ser felizes nas tristezas
E em suas feias belezas