ENXERTO

"Quero um pedaço de algo alheio

Para me fazer um novo outro."

Enxertaram em mim

Asas emplumadas de Glória

E uma auréola dourada de inocência.

Mas este corpo vil corrupto

De sangue ruim e hediondo

Depôs a auréola e fez as asas murcharem.

Sou de horror e pecado

Tenho ócio ácido à remida santidade.

Enxerto compatível só a Perdição.

O corpo burro goza por insignificantes instantes

A alma no fundo padece a condenação diária

E o inferno espera para ter sua parte do enxertado.

De asas caídas e auréola deposta

Só resta-me uma decisória esperança

Um pedacinho de amor verdadeiro para enxerto.

"Quero um pedaço de algo alheio

Para me fazer um novo outro."