Fragmentos 81 [Frio do Fim dos dias]

Algumas pessoas nunca morrerão.

Não se vão da memória.

Não se perderão jamais.

Suas histórias,

Sua História...

Estarão vivas para sempre.

São especiais por motivos, nem sempre, tão claros.

São insuperáveis em sua personalidade.

Incríveis sem nada demais.

Fantásticas simplesmente por existirem.

A vida sofrida, o Frio do Fim dos dias...

Nunca sofreram, e nem nunca sofrerão.

Sua Passagem não passará de um vão,

de uma pequena ruptura, um lapso, no tempo.

A vida poderia ter sido diferente.

Mas não foi. E que diferença faria?

Foi esta - e somente esta.

E foi feliz em sua melancolia,

na qual os dias não se acabavam: repetiram-se.

E será assim para sempre.

Um lapso no tempo...

Um curto espaço que o separa da eternidade.

A memória, ainda que penda, já é pura saudade.

É saudade nesse dia frio...

E seu último sorriso... A última conversa,

sua expressão de olhar fundo, penetrante...

Penetrante no infinito, perdido em si mesmo. ...

Minhas durezas se esfacelam na madrugada...

Só se explica pela vida ser um continuum de pequenas perdas,

de feridas que cicatrizam costurando retalhos.

Poderia ter sido diferente - mas tudo deveria ter sido assim.

Saudade não tem fim - nem começo.

Nesses frios dias, de fim, de um novo começo,

sinto a solidez da infância rememorada - toda, de uma só vez.

E da gratidão por ter sido exatamente assim -

ainda que quisesse que tudo fosse diferente...

[Aos que nunca se foram, pois não

houve tempo de partida. Ao meu

Alter-ego, meu eu negativo: S. S.

dos S.]