Teus olhos dormem

teus olhos dormem

não vêem a flor que te trago

enquanto a noite passeia nos jardins

e a lua molha de prata o mistério terno e sensual

do vento passando por entre as folhas das árvores

as sombras são só silêncios

acalentando o teu sono

que, agora, é todo o meu existir

semeando a noite de memórias

que não me deixam dormir

o céu é um ramalhete de amorosas estrelas

semelhante ao teu olhar

quando do sonho em que dormes

você por fim acordar

e apenas duas estrelas

fiquem no dia a brilhar

teus olhos dormem, amada

não vêem a agonia do poeta

e o amor que o poeta

soluça

em meio ao grito e à escuridão

das noites soltas e atônitas

procurando um sentido

na areia roçando o chão

teus olhos dormem, amor

não vêem as palavras que trago

são cânticos de solidão

insolúveis

indizíveis

palavras inefavelmente cantadas em vão

palavras...

palavras não dizem nada

amor, me dá tua mão

e deixa eu sentir todos os carinhos que já foram ditos

e todos os momentos em que, sozinho, te amei

teus olhos dormem

dormem

enquanto os pássaros

saindo da noite presa à espera

trazem a aurora e o canto idílico

de uma irreversível primavera

e as rosas, surgindo em meio à neblina,

pressupõem a manhã

nascendo por entre os teus seios

por entre colina e colina