Além-abismo
É noite.
A vida suspira
no espaço dos abraços,
na terra do solado surrado,
nos olhares desviados.
O mundo segue.
As pessoas amam, fodem, mentem;
alguns estão bem contentes,
outros fingem ser gente e
eu sigo aqui, presa no entre.
Encostada na parede,
acendo um cigarro,
observo as horas ao meu lado.
Como quem não sente,
deixo a manhã chegar.
Eu já nem sei o teu nome;
só me lembro
da expressão da tua fome.
Mas eu quis dissolver
as imagens, os intentos.
Te guardei num redemoinho de silêncios,
afundei teus olhos num espelho de fragmentos.
Tive nojo de tua vaidade e depois
tive nojo de ti.
Sob o chuveiro, livrei-me dos resquícios
dos teus beijos.
Eu já nem sei o teu nome.
Tanto faz.
Restou te desconhecer;
e te desconheci com o mesmo prazer.