PERDOAR NÃO É PARA OS FRACOS
Perdoar exige raça, exige chão firme, exige fé.
Mas não um perdoar só da boca para fora,
mas um perdoar com todas vértebras da alma,
com todos céus da compaixão,
com todos paralelepípedos do querer-bem.
Perdoar não é para os fracos, nem para os famintos,
é passo certo de caso pensado,
é grito que faz arrepiar os pelos de universo.
Sem perdoar viramos andarilhos cegos,
viramos zumbis esfomeados até sempre,
viramos estorvo de nós mesmos.
Quando perdoamos damos alforria para raiva,
abrimos o portão para o ranço se mandar de vez,
deixamos toda dor sumir pelo ralo.
Podemos perdoar fingindo que perdoamos,
podemos perdoar desafinando cada acorde do perdão,
podemos perdoar querendo logo acabar o serviço para ir embora.
Mas se perdoarmos sem esquecer nenhum poro do corpo,
se perdoarmos sem ter vergonha nenhum tiquinho que seja,
se perdoarmos com todo nosso fôlego, com todo nosso coração.
A vida a dois deixará de ter solavancos em cada pedaço,
a vida a dois ficará só brigadeiro com guaraná,
a vida a dois vai virar um lindo nascer do sol e nada mais.
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