ANNA
E o dia se fez noite
noite se fez lua
lua se fez sol
e você apareceu na rua
triste
sozinha
desprotegida
isolada
com frio
mesmo assim sorriu
logo quis saber seu nome
endereço
conhecer seus olhos
desejos de um arrepio
aquele que escorre
afluente
percorre
queima
amassa
você sorriu
as estrelas tornaram-se estradas
as estradas caminhos
os caminhos opções
das opções os corações
você me viu
e tudo que víamos juntos decorreu
daquele encontro no bar
da conversa que não esgotou
do vinho embreagado
do dia e da noite
do sol e da lua
que não terminou
porque há um sessar insignificante
de uma vontade medonha
foi assim que a descobri
que seriamos um só
ao repousar nossas faces sobre a fronha
ainda é possível enxergar todas as estrelas
o cometa
o dia seguinte explodindo em alegria
aquele refresco da tarde
e de novo
embalado por sua respiração
sinto tudo
seu piscar
seu olhar
seu coração
que organiza na desorganização nossa
o desconcerto concertado
de uma prosa nunca escrita
de um sentimento dessentido
de uma vida toda de espera
de um faz de conta
que aconteceu em sua janela
de uma história que nunca mereceu
mas que de tão incrível e intensa
o personagem obscureceu
apagou
demudou
desencarnou
para o negro dos olhos teus