ANNA

E o dia se fez noite

noite se fez lua

lua se fez sol

e você apareceu na rua

triste

sozinha

desprotegida

isolada

com frio

mesmo assim sorriu

logo quis saber seu nome

endereço

conhecer seus olhos

desejos de um arrepio

aquele que escorre

afluente

percorre

queima

amassa

você sorriu

as estrelas tornaram-se estradas

as estradas caminhos

os caminhos opções

das opções os corações

você me viu

e tudo que víamos juntos decorreu

daquele encontro no bar

da conversa que não esgotou

do vinho embreagado

do dia e da noite

do sol e da lua

que não terminou

porque há um sessar insignificante

de uma vontade medonha

foi assim que a descobri

que seriamos um só

ao repousar nossas faces sobre a fronha

ainda é possível enxergar todas as estrelas

o cometa

o dia seguinte explodindo em alegria

aquele refresco da tarde

e de novo

embalado por sua respiração

sinto tudo

seu piscar

seu olhar

seu coração

que organiza na desorganização nossa

o desconcerto concertado

de uma prosa nunca escrita

de um sentimento dessentido

de uma vida toda de espera

de um faz de conta

que aconteceu em sua janela

de uma história que nunca mereceu

mas que de tão incrível e intensa

o personagem obscureceu

apagou

demudou

desencarnou

para o negro dos olhos teus

Jack Solares
Enviado por Jack Solares em 17/05/2016
Reeditado em 17/03/2017
Código do texto: T5638836
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