NEM TUDO FICA VELHO

Tudo envelhece nesta vida.

As pedras, a areia, as rimas, os ninhos.

Envelhecem as verdades, os sustos,

as desculpas, o paladar, o acarinhar.

Envelhecem os sonhos, as despedidas,

a saudade, o vento, a solidão.

Envelhecem as rugas, as manias, as vontades.

Como envelhecem os desejos,

a espera, o perdão, aquele poente encantador.

Tanto envelhece a voz, o suor, a razão.

Também muito envelhece o encardido,

o doído, o amalucado, o remexido, o puído.

Envelhece cada outono perdido,

cada aceno tardio, cada olhar sem arremate.

Envelhecem as vontades, os temperos,

as portas sem tranca, os medos sem dono.

Sim, envelhece o sangue, os degraus,

aqueles porões que mantemos ancorados.

Envelhecem os cabelos de Deus.

Uma coisa só não envelhece, nunca mesmo.

É aquele pequeno filete da paixão que guardamos

no fundo do baú da nossa alma,

bem lá no fundo, escondido toda vida.

Por mais que tudo envelheça neste mundo,

por mais que tudo vire cinzas, vire lodo,vire pó,

este filete vivo manterá seu vigor original,

como orquestra só esperando o maestro dar o sinal

para emergir, para ungir, para virar imensidão.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 16/05/2016
Reeditado em 16/05/2016
Código do texto: T5636871
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