VESTIDO CARMESIM

Ela dançou pela noite alucinada

e fez de seu vestido uma bandeira,

vermelha em sangue e insanidade.

Verteu em rodopios suas entranhas

e forte e tão perdida nestes ares,

fez do seu grito reza braba aos quatro ventos!

De sede e de espanto fez a todos,

morrer à míngua de desejo e agonia.

Pisou mais forte o chão, bebeu cachaça,

e sufocou no peito aquela mágoa.

E valeria a pena se chorar por tal fulano

que não valia um só sequer soluço?

Dançou e foi em frente, que importava agora,

tanta palavra escrita nesses vãos desvelos,

se a vida aos pés se derramava inteira

e no seu peito, inútil coração batia?

Fez do asfalto seu melhor tablado,

dançou flamenca a dança, sapateou,

fez do suor seu mais silente choro

e rodopiou, e se esbaldou em fúria,

chamou demônios, exortou as tempestades,

clamou vingança e incendiou o peito,

queimou as asas, em volteios doidos,

e sem sandálias, pés no chão gelado,

lá desenhou seus passos mais bonitos...

A saia fez girar qual catavento,

exorcisando assim aquele amor

que era promessa nunca a ser cumprida.

E ao abraçar aquele que a seguira,

o fez com tal tempero e manha,

beijou-lhe a boca machucou-lhe a pele,

com suas unhas carmesim afiadas,

até ele gritar em uivos loucos,

qual lobo vendo a lua cheia...

Agora os sons da noite já cessaram

e só ficaram pelo ar restos de vida

e só ficaram pelo chão as marcas

e aquele velho nó na sua garganta

e as lágrimas amigas neste amanhecer,

as mãos vazias, a cabeça entorpecida,

e valsas tristes na memória de outros tempos

e flores que murcharam nos canteiros

e ainda aquele amor a machucar sua pele,

ainda aquele amor que agora despertava,

trazido inteiro pela luz do dia !

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tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 13/07/2007
Reeditado em 06/04/2008
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