Alma frívola
Enquanto coa-se o café no bule enferrujado
Os pensamentos vertiginosos assolam
O âmago de uma alma sórdida
Enxergar-se no espelho tem sido tarefa árdua pela manhã
Invoca o cerne do ceticismo subjetivo
E o olhar pífio a um eu materializado em vidro
Faz implodir mística a indagação de um eu omisso:
Quem sou eu? Quando fui?
Não sei
Não sou
Acho que nunca fui, nem serei
Registrei os erros numa folha de papel molhada
Dessas que se desfazem ao toque frágil de uma mão trêmula
Os pingos de chuva que caem no jardim lá fora
Afogam os pólens das rosas suntuosas do amanhã
Diluem-se os sonhos durante o orvalho da antemanhã
E o desenlace desguarnecido das borboletas azul vinil
Esbugalham o colapso de uma alma vil
Mudo conforme mudam às estações
Uma parte de mim grita; outrora cala
Uma metade de mim chora, enquanto outra sorri
Uma morre e - em vão - outra vive
Bem lá no fundo,
Eu sei que quando os sinos dobrarem
A primavera da vida vai chegar
E a minha renascença vislumbrar.