FALANDO DA MENTIRA
Mentira é para as coisas triviais,
e para as continentais.
Pode ser o aperitivo inocente,
ou o banquete triunfal.
Mentimos para nos entrincheirar
e assim pisamos num campo seguro,
mais amigo, mais fiel.
Ela vem a calhar para o álibi ser imbatível,
uma boia de salvação abençoada.
Mentimos nos subúrbios da paixão,
nas mais sinceras lágrimas paridas,
nos mais retumbantes gritos de dor.
Mentimos metralhando nossos inimigos
e bebendo com nossos irmãos mais irmãos.
Quem diz que não mente merece o purgatório,
ou, quem sabe, o poleiro da eterna perdição.
Por vezes a mentira salva nossa pele,
refaz nosso fôlego,
e absolve nossa alma de vez.
Tem dias em que a trancamos numa cela isolada,
bem longe dos nossos respingos sem culpa.
Outras vezes a travestimos de redentora
como se fosse a coisa mais santa deste mundo.
Mentimos no bocejar de cada dia
como repentistas hábeis nesta arte,
como filhos desgarrados sem ter quer dar satisfação a ninguém.
Alguns mentem tanto que acaba virando seu eco mais vivo,
outros a guardam no colete para aquelas estreias mais soberbas.
Sem mentir ficaríamos desnudos em praça pública,
o nosso show perderia o cenário, o enredo, a plateia,
a nossa vida passaria a ser um teatro barato,
sem a menor graça, sem o menor sentido,
sem a menor inspiração.
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