FALANDO DA MENTIRA

Mentira é para as coisas triviais,

e para as continentais.

Pode ser o aperitivo inocente,

ou o banquete triunfal.

Mentimos para nos entrincheirar

e assim pisamos num campo seguro,

mais amigo, mais fiel.

Ela vem a calhar para o álibi ser imbatível,

uma boia de salvação abençoada.

Mentimos nos subúrbios da paixão,

nas mais sinceras lágrimas paridas,

nos mais retumbantes gritos de dor.

Mentimos metralhando nossos inimigos

e bebendo com nossos irmãos mais irmãos.

Quem diz que não mente merece o purgatório,

ou, quem sabe, o poleiro da eterna perdição.

Por vezes a mentira salva nossa pele,

refaz nosso fôlego,

e absolve nossa alma de vez.

Tem dias em que a trancamos numa cela isolada,

bem longe dos nossos respingos sem culpa.

Outras vezes a travestimos de redentora

como se fosse a coisa mais santa deste mundo.

Mentimos no bocejar de cada dia

como repentistas hábeis nesta arte,

como filhos desgarrados sem ter quer dar satisfação a ninguém.

Alguns mentem tanto que acaba virando seu eco mais vivo,

outros a guardam no colete para aquelas estreias mais soberbas.

Sem mentir ficaríamos desnudos em praça pública,

o nosso show perderia o cenário, o enredo, a plateia,

a nossa vida passaria a ser um teatro barato,

sem a menor graça, sem o menor sentido,

sem a menor inspiração.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 08/05/2016
Código do texto: T5628811
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