DESCARREGO
As vezes penso que sou o que escrevo.
De maneiras sutis, mas alegres.
Viajo conforme o desconhecido e
penso nele as vezes como um membro
exposto a qualquer observação
Gasto meus dias em coisas fúteis.
De fato o acaso me constrói.
Sou um milhão de versos sem perdão.
Arrasto meu mastro na multidão.
Vez em quando sinto a dor de amar, num túnel.
Um jardim parado e nulo.
Gosto do escuro,
pressinto a alma do vento,
destrói-se um barco a esmo.
Traço os laços da minha existência.
Sigo de perto a parte que me amedronta.
Desejo tão perto estar ausente
que a dor da incerteza me acalma.
Distante do laço ergo a alegoria.
Contraste de dor, amor, euforia.
Desejo o semblante do amor impuro
num ego jamais perdoado.
Mil vezes o pasto ao gosto da fonte.
Murmúrios de vento ao longo da fronte.
Tão breve sereno, esqueço a morte
que já não me é distante a presença.
Faço versos de amor à morte,
como um passo calmo de breves correntes.
Moro no braço da eterna sorte,
que já não me é garantida há tempo.
Escrevo sem antes deduzir palavras.
Surgem imagens, relâmpagos, ventos.
Sou um breve momento de esperança e vagos,
leves pensamentos
Tão distante a erva, roldana rainha,
que traz na sua mente uma alma crescente.
Destrói a dor da alma sem medo
de outrora ter encontrado a morte