Meu assunto
Abro a gaveta virtual
e guardo o verso que me pesca.
Nele está contida a nudez
que tanto brinca com as minhas roupas
já fora de moda e sem pressa de acabar.
De súbito, assustam-me os teus destroços
refletidos sobre a minha retina molhada.
Unidos à minha fragilidade
teus espontâneos e imprevistos,
presos em tua trama requintada.
O silêncio comum às estrelas,
fala mais alto e com veemência,
durante o nosso jantar de gala.
A noite não passa.
Descubro meu corpo moldado
em metáforas de outros autores,
segundo as palavras que teus lábios
insistem em pronunciar lentamente.
Eu deveria saber.
Nada que eu soubesse
faria a mínima diferença
diante do inexorável verso tolo
que o teu coração insiste em repetir
sem a vergonha cabível aos de boa vontade.
Longitudes abrem os braços ao meu encontro
e eu vou sem pensar, e, sem rumo
que me dê um código postal.
Meu assunto não termina
sem que haja continuidade,
naquele poema engavetado.
Curioso é o seu ponto final.