Meu assunto

Abro a gaveta virtual

e guardo o verso que me pesca.

Nele está contida a nudez

que tanto brinca com as minhas roupas

já fora de moda e sem pressa de acabar.

De súbito, assustam-me os teus destroços

refletidos sobre a minha retina molhada.

Unidos à minha fragilidade

teus espontâneos e imprevistos,

presos em tua trama requintada.

O silêncio comum às estrelas,

fala mais alto e com veemência,

durante o nosso jantar de gala.

A noite não passa.

Descubro meu corpo moldado

em metáforas de outros autores,

segundo as palavras que teus lábios

insistem em pronunciar lentamente.

Eu deveria saber.

Nada que eu soubesse

faria a mínima diferença

diante do inexorável verso tolo

que o teu coração insiste em repetir

sem a vergonha cabível aos de boa vontade.

Longitudes abrem os braços ao meu encontro

e eu vou sem pensar, e, sem rumo

que me dê um código postal.

Meu assunto não termina

sem que haja continuidade,

naquele poema engavetado.

Curioso é o seu ponto final.

Benilton
Enviado por Benilton em 04/05/2016
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