Desata-me
Queria poder expressar meu desconforto,
Mas confronto com minha ausência de gestos,
Com minhas ações ativas mutiladas em palavras
Imersas sobre meus olhos substituindo as lágrimas,
São léxicos que escorrem sobre minha face
E se enrolam em meu pescoço
Formando uma obscena forca fatalista
Sufocando-me com uma sensatez absurda de Laio
Para entalar em minha garganta um nó de angústia
Bloqueando o ímpeto ensejo de meu âmago
O despejo de meu mais puro desejo:
Minha crua vontade de se esvair de mim
Para habitar total o colo de teu ser,
Minha necessidade de vencer a morte
Caindo por inteiro em tuas pupilas
Perdido e vulnerável no abismo de ti,
Minha sede de tuas lágrimas publicadas em meus olhos,
Minha fome de infinito para teu coração navegar,
Queria abrir feridas de sorriso em tua alma
Para varrer tuas dores para fora de teu peito,
E a maneira que o fim escolhesse nos encontrar
Olharia para minhas feridas como flores abertas
No campo da história para em um futuro incerto
Sentir teu aroma e lembrar
Que em um mundo cercado de ódio,
Em um tempo líquido inchado de egoísmo
E escasso de cumplicidade,
Amamos sem definições ou paradigmas
E dessa forma vivemos o deleite de nosso delírio
Sendo um sonho perigoso
Para um mundo prestes a ser proibido de sonhar;
Porém meu desejo está sem força,
Existe um cuidado em mim que não pedi,
Um cuidado que trocaria de bom grado
Com uma queda imensa na solidão zelando a dor
De um amor que foi da mesma forma tão imenso,
Meu peito implora por uma entrega visceral,
Um sentimento que me devaste, que me mostre do avesso,
Mas meu amor tem os olhos de uma mãe
Em um aborto espontâneo
Que ama o filho que não nasceu,
Habita em mim uma estúpida prudência,
Ser prudente no amor é estar em luto por um filho vivo.