Desata-me

Queria poder expressar meu desconforto,

Mas confronto com minha ausência de gestos,

Com minhas ações ativas mutiladas em palavras

Imersas sobre meus olhos substituindo as lágrimas,

São léxicos que escorrem sobre minha face

E se enrolam em meu pescoço

Formando uma obscena forca fatalista

Sufocando-me com uma sensatez absurda de Laio

Para entalar em minha garganta um nó de angústia

Bloqueando o ímpeto ensejo de meu âmago

O despejo de meu mais puro desejo:

Minha crua vontade de se esvair de mim

Para habitar total o colo de teu ser,

Minha necessidade de vencer a morte

Caindo por inteiro em tuas pupilas

Perdido e vulnerável no abismo de ti,

Minha sede de tuas lágrimas publicadas em meus olhos,

Minha fome de infinito para teu coração navegar,

Queria abrir feridas de sorriso em tua alma

Para varrer tuas dores para fora de teu peito,

E a maneira que o fim escolhesse nos encontrar

Olharia para minhas feridas como flores abertas

No campo da história para em um futuro incerto

Sentir teu aroma e lembrar

Que em um mundo cercado de ódio,

Em um tempo líquido inchado de egoísmo

E escasso de cumplicidade,

Amamos sem definições ou paradigmas

E dessa forma vivemos o deleite de nosso delírio

Sendo um sonho perigoso

Para um mundo prestes a ser proibido de sonhar;

Porém meu desejo está sem força,

Existe um cuidado em mim que não pedi,

Um cuidado que trocaria de bom grado

Com uma queda imensa na solidão zelando a dor

De um amor que foi da mesma forma tão imenso,

Meu peito implora por uma entrega visceral,

Um sentimento que me devaste, que me mostre do avesso,

Mas meu amor tem os olhos de uma mãe

Em um aborto espontâneo

Que ama o filho que não nasceu,

Habita em mim uma estúpida prudência,

Ser prudente no amor é estar em luto por um filho vivo.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 03/05/2016
Reeditado em 03/05/2016
Código do texto: T5623841
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