O MORTO MENDIGO QUE FOI MORAR NA LUA

A morte é um lembrete perpétuo

De que a vida vale à pena.

Sobre o musgo da rocha dura

O corpo do terno morto,

Este nem esfriou nem endureceu

Sobre a rocha lodosa

O morto mendigo se vê numa mesa

Posta aos urubus soltos na natureza

Sobre a rocha escarpada

O morto não espera ter uma grande escapada

Apenas espera a noite derradeira para ver as estrelas.

Sobre a rocha descolorida da madrugada

O morto vê um alado cavalo também morto

Do seu lado pousar. O morto monta no cavalo enviado

Do alto o morto vê a rocha aonde fora posto,

Não vê urubus, e conclui o engano do pensamento

De grande fuga. O morto sortudo acha na morte

A sorte da liberdade que não teve em vida.

Voa o morto no cavalo alado para a lua

E dela faz Paraíso, uma morada só tua.