Sharon Van Etten

Não mais, Sharon.

Nem mais uma lágrima

embalada pelos os teus tons

cinzas-azulados.

Não.

Sem mais gritos

que procuram vida própria

fora de mim

e o desespero grudado no telhado,

escalando as paredes,

fundindo-se à madeira...

O desespero, Sharon, descombina

com o turvo anseio de vida que há em mim.

Como posso sentir

tanto gozo em sua dor

que é minha dor?

Dores.

Não posso cantá-la que me perco

e atinjo, até mesmo,

o que nem sabia sentir

mas que me mirava há tanto.

Irei dançar, Sharon.

Irei dançar com lágrimas fosqueando os meus olhos,

em cima da cama,

por cima dos corpos, em círculos.

Os espasmos serão permitidos.

Retirarei fotos

para comprovar algumas teorias obtusas.

A minha mão tocando o corpo

que meu é como se fosse outro.

E o teu lixo me alimentando.

Jardel Rodrigues Ferreira
Enviado por Jardel Rodrigues Ferreira em 01/05/2016
Reeditado em 01/10/2017
Código do texto: T5622202
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