ABRIL QUASE MAIO
Espaços cislunares,
Janelas abertas para um azul
Diáfano,
Os raios fracos, suave brisa.
Quaresmeiras abertas nas ruas,
Fícus ainda hirtos e lustrosos,
Perfume de mandarinas no ar,
Aroeiras quase debulhando
pimentas-rosas.
Bicos-de-lacre no Ibirapuera,
Sabiás em profusão,
Papagaios de papel.
A Cantareira úmida e brumosa.
Vivaldi passeia entre as árvores,
Deita-se nos amarelos dos gramados,
Disputa pinhões com esquilos.
Eu psso.
Nada vejo mas pressinto,
Nos tons embaralhados,
Nos aromas cruzados.
A natureza trocando de cores.
Dias de abril.
Tempo das telas de cinema,
Livros da estação.
Cafeterias lotadas!
Lãzinha sobre a pele,
Garoa fininha,
Gotas de vetiver.
São Paulo em romance.
Abril da poesia urbana,
Versos que se desgarram.
Como não amar o outono?
Ou aquele homem cheio de í mpetos?
Entre chás e biscoitos
Desfaço-me das folhas
Antigas...
Das penas de outros temas...
Engendro novas cantigas.
Falo de memoria,
De sopro guardado,
De outros outonos e abris,
Quando caminhar era intuitivo
E enxergar, natural.
Na nostalgia
Não saboreio mais
Diletas e mesmas fantasias...
Um milagre.
Quase maio!
Teço nos fios do meu
Temp(l)o
Novo projeto e exigéncia
:Em maio voltar a enxergar.