O HOMEM E A MORTE, EU PLAGIANDO MANUEL BANDEIRA

— Tu és a morte? pergunta.

Lá de longe

Do norte sem sorte

Veio cheia de candura

A boa morte

Cumprir ofício com aqueles,

Que da vida se despedem.

— A morte sou!

Venho trazer-te descanso

Do viver que te humilhou.

Veio à morte aliviar o cansaço

Das costas dos que sofrem,

Pôr bálsamo nos pés calejados.

Ó quão santa samaritana ela é.

Pensava em ti com terror...

Ninguém cuida dos mortos

E dos homens mais que

A nobre morte marginal.

Dos vivos ela absorve toda a dor.

A fronte do homem tocou,

Com infinita doçura

Depois com o maior carinho

Os dois olhos ela cerrou.

A doce morte ao ir embora,

Comovida a porta do casebre fechou,

E fez brotar do chão

Uma rosa branca, um ídolo nascido

De amor pelo vivo que morto se tornou.